quarta-feira, 20 de abril de 2005

Participar, com raça e classe


Revolutas No 14 – Abril de 2005

Nos dias 30 de junho, 1 e 2 de julho, será realizada a 1ª Conferência Nacional de Promoção de Igualdade Racial.

Esta conferência não possui critérios de participação e representação realmente democráticos, e também não é um evento que está sendo amplamente divulgado. E é uma Conferência patrocinada pelo governo federal.

Diante disso, é inevitável a pergunta: vale a pena participar de um evento com essas características? O governo Lula promoveu várias Conferências (Saúde, Cidades, Meio Ambiente, Direitos Humanos, entre outros), todas elas com essas mesmas características. Seus resultados tiveram pouco efeito prático.

A resolução da Conferência Nacional do Meio Ambiente demorou 6 meses para ser publicada, e não saiu do papel.

Seu objetivo mais importante parece ser a legitimação das políticas do governo nas diversas áreas, além de buscar apoio político junto aos movimentos e ONGs que participam das discussões.

Mas muitas vezes isso não é tão tranqüilo assim. Em 2003 a I Conferência Nacional de Meio Ambiente criou uma situação política interessante: na abertura da Conferência, ativistas dos movimentos ambientais expressaram abertamente o seu descontentamento com os rumos do governo Lula.

Assim, essas Conferências são bastante questionáveis. Mas, ao mesmo tempo, as Conferências contaram com uma ampla participação. Dezenas de milhares de pessoas participaram dessas Conferências, debateram problemas, apresentaram propostas.

E a esmagadora maioria dessas pessoas não pode ser considerada simplesmente “governista”. São pessoas que participam desses processos porque querem discutir essas questões.

De modo geral, a esquerda organizada não tem participado ativamente nessas Conferências. Consideramos isso um equívoco, pois deixamos de debater e dialogar com essas milhares de pessoas, perdemos uma oportunidade para expor nossas idéias e propostas.

É claro que não podemos alimentar qualquer ilusão nas Conferências, mas a atitude de ficar de fora não é a melhor postura. Ignorar ou simplesmente denunciar as Conferências pode deixar as nossas consciências tranquilas, mas não terá qualquer ressonância ou efeito prático.

Estaríamos simplesmente deixando passar uma oportunidade de nos dirigirmos a milhares de militantes e ativistas em busca de respostas.

Esse espaço das Conferências nacionais deve ser utilizado, para intervirmos politicamente, sem sectarismo, procurando dialogar com os participantes, mas apresentando posições claras que desmascarem a política do governo e politizem as discussões, expondo a real natureza dos problemas em debate.

Por isso, entendemos que, apesar de tudo, apesar das limitações da Conferência, é um espaço importante para a intervenção de todos aqueles que lutam decididamente contra o racismo. Milhares de pessoas estarão participando, ansiosos por debater e apontar soluções, e todos aqueles que estão comprometidos com a luta por uma sociedade igualitária e sem opressão, devem participar.

Porém, precisamos garantir que essa participação seja organizada, apresentando nas Conferências propostas imediatas e abrangentes, levantando reivindicações dos negros e indígenas em todos os aspectos: educação, saúde, trabalho, meio ambiente, etc. E é possível e necessário buscar alianças, em cima de questões concretas, com outros setores comprometidos com a luta contra o racismo.

Devemos deixar claro que não vamos ficar apenas correndo atrás do prejuízo. É preciso atacar o mal pela raiz. O racismo é parte deste sistema que explora e oprime. E por isso a importância de apresentarmos uma visão anticapitalista da luta contra o racismo estrutural.

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