quinta-feira, 18 de novembro de 2004

O PSOL e o reagrupamento da esquerda hoje

Revolutas No 10 - Novembro de 2004

1- A crise da esquerda e o processo de reagrupamento, que teve início com a vitória de Lula, ainda está distante de seu término.

A formação do P-SOL é certamente o fruto mais importante desse processo, mas não pode ser considerada a única vertente.

A crise de agrupamentos, correntes e militantes, ainda está em curso. São setores que têm adotado uma postura combativa e de oposição aos ataques do governo Lula, mas que ainda não se definiram quanto ao rumo a ser tomado. São processos com ritmos desiguais, que devem ser respeitados. Devemos ter clareza que o reagrupamento não se dará de uma só vez, e tampouco será linear.

2- Essa constatação deve se refletir na própria política do P-SOL. O nosso projeto de construção requer definições claras sobre a questão crucial:que tipo de partido é necessário construir? O programa do P-SOL, ainda que provisório, delimita um campo político anticapitalista, classista e socialista, com um perfil de partido de massas. São parâmetros gerais, mas servem para orientar a nossa intervenção no processo de reagrupamento da esquerda. Antes de mais nada, significa que a nossa política não deve ser o de esperar que os “interessados” venham a nós, mas devemos sim assumir uma política de ampliação do P-SOL, procurando incorporar, a partir dos marcos definidos pelo programa e pelo estatuto, todos aqueles setores que se opõem ao governo Lula e assumam uma perspectiva de luta contra o capitalismo e pelo socialismo. Caso contrário, não nos tornaremos um pólo de aglutinação política da esquerda socialista.

3- O P-SOL, apesar de ainda estar em processo de formação e não contar com uma unidade política sólida, deve tomar iniciativas, procurando estender pontes que possibilitem um diálogo com esses setores, e, principalmente, a realização de ações conjuntas.

Certamente é nosso desejo que esses setores se juntem ao nosso projeto partidário, mas não devemos transformá-lo no eixo central da relação com os vários agrupamentos.

O critério principal deve ser a constituição de um pólo classista que impulsione a luta de classes, que organize os trabalhadores contra os ataques do governo Lula. O ponto de partida deve ser o que nos une para a luta e não o que nos divide. A marcha do dia 25 de novembro é um evento de grande importância nesse sentido. Apesar das diferenças e dificuldades, será uma ação unitária contra a reforma sindical e trabalhista, que envolverá uma significativa parcela da esquerda anticapitalista.

4-A realização de atos unitários pode resultar na constituição de um campo político de esquerda unido sobre a base das demandas e bandeiras da classe trabalhadora.

Devemos lutar por essa unidade, sem abrir mão das discussões acerca de eventuais diferenças.

Não são coisas contraditórias, mas complementares. A crise atual tem colocado diante do conjunto da esquerda, inclusive o P-SOL, um amplo leque de questões teóricas, políticas e programáticas, abarcando desde um balanço do período que se encerrou com a vitória do PT até debates de fundo estratégico. Adotar uma atitude autoproclamatória seria um erro, não só porque além do P-SOL outros processos e experiências estão ocorrendo, mas também porque no P-SOL os debates mal começaram e a luta pela construção de uma unidade sólida, num quadro de diversidade política e teórica, será prolongada.

5- A recente ascensão das lutas oferece uma conjuntura favorável para o reagrupamento da esquerda. Tudo indica que são grandes as possibilidades dessa tendência se manter no próximo ano. A nossa tarefa de construção não só do P-SOL mas de um pólo anticapitalista que impulsione o movimento de massas, requer que estejamos aptos a disputar politicamente os militantes e as massas ainda com ilusões no PT e no governo Lula. Mas para tanto não basta a simples política das denúncias. É necessária a combinação das lutas unitárias, inclusive chamando os militantes e as bases petistas, com um debate político aberto e fraterno que não se limite a repetir chavões, mas que apresente argumentos políticos convincentes que demonstrem, sem sectarismo, a verdadeira natureza do governo Lula e a degeneração definitiva do PT. Nesse aspecto, cremos que uma referência importante a ser avaliada é a tática da frente única operária de Lênin e Trotsky.

6-A atitude diante do processo de reagrupamento não está, portanto, desvinculada do debate do partido que queremos construir. Se, como afirmamos, o programa e o estatuto provisórios são um balizamento importante, ainda estamos longe de um projeto político-partidário claro.

Esse projeto terá de ser debatido e construído, e não está restrito a debates programáticos ou estatutários. Deve abarcar questões de estratégia, tática, métodos, concepção de partido, entre outras coisas.

7 -Para nos credenciarmos enquanto alternativa real devemos nos tornar numa referência junto aos trabalhadores, através de uma intervenção firme e classista nas diversas lutas sociais, pois é aí que deve estar o centro de gravidade da atividade do P-SOL.

As recentes intervenções nas diversas greves foram um bom começo, apesar de falhas e a falta de uma intervenção mais organizada.

8-Os desafios são grandes. Para o PSOL não se trata de escolher entre ser um partido centrado nas eleições semelhante ao PT, mas com uma política mais à esquerda, ou se transformar em um partido sectário, preocupado apenas em “demarcar” pela esquerda, uma espécie de PSTU “light”. O perfil político que devemos construir deve fazer justiça à condição de novo partido, avesso ao dogmatismo, doutrinarismo e ao sectarismo. Um partido que seja ao mesmo tempo continuidade do patrimônio histórico da esquerda revolucionária e uma ruptura com o oportunismo e com os vícios e erros que todos nós trazemos em nossa bagagem política. Por isso é urgente que o debate comece a aflorar. Será um trabalho longo e árduo, mas valerá a pena.


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