terça-feira, 3 de agosto de 2004

Legalizar ou construir o PSOL?

Revolutas No 09 - Agosto de 2004

Ao contrário do que o título pode sugerir, este artigo não pretende opor uma coisa a outra. Mas isso não significa igualar a importância das duas tarefas

Ao contrário do que o título pode sugerir, este artigo não pretende opor uma coisa a outra. Pelo contrário, pretende negar que haja uma contraposição entre as duas tarefas. Ambas são essenciais para o PSOL, ambas estão entre as prioridades, e devem ser executadas por todos os militantes. Mas isso não significa igualar a importância das duas tarefas, e esse é o ponto que queremos discutir. Qual é, ou melhor, qual deve ser o eixo da vida partidária hoje? Qual a importância da legalização? A tarefa de legalização do partido, através da coleta de assinaturas, é sem dúvida importante, pois permitirá o lançamento de candidatos nas eleições parlamentares, presidenciais, municipais e para os governos de estado. Ter parlamentares socialistas coerentes com os interesses dos trabalhadores é, de fato, muito importante. Basta lembrarmos o papel que cumpriram os parlamentares “radicais”- expulsos do PT depois – nas lutas dos trabalhadores contra a reforma da previdência do governo Lula.

Também é inegável que ter uma candidatura própria à presidência em 2006 seria uma oportunidade para divulgar nossas propostas e contrapor uma perspectiva socialista e revolucionária ao PT.

Contudo, por mais importante que seja tudo isso, não pode ser considerado a prioridade do partido. E a razão primeira é que a participação em eleições é secundária para nós, pelo simples fato de que a transformação da sociedade não virá pela via das eleições. Participar ou não de eleições é uma decisão tática, não estratégica. Ter parlamentares socialistas e revolucionários é importante, mas não é fundamental nem para a luta pelo socialismo e nem para a construção de uma alternativa revolucionária.

Se chegarmos em 2006 sem o partido legalizado será um fato lamentável, mas não será o fim do mundo. Mas se não conseguirmos nos estruturar enquanto partido organizado, de luta, enraizado na classe trabalhadora e nos movimentos sociais, será um enorme desastre.

O que significa construir o partido? Quando falamos em construir o partido não nos referimos ao aspecto burocrático ou mesmo “técnico” de organização.

Significa nuclear militantes, mas não para que sejam simples espaços onde se definam as tarefas. Significa estruturar instâncias, mas não simplesmente para estabelecer uma ordem hierárquica.

O sentido de construir e organizar é, ao nosso ver, muito mais amplo.

Hoje somos partido apenas no nome.

E isso não porque não estejamos legalizados, mas pelo simples fato de que não temos política clara, não temos unidade política, não temos uma militância que atue de forma organizada nos movimentos e nas lutas. Um partido não é uma soma de militantes, um conjunto de instâncias e organismos. E a ação de um partido não tampouco a simples soma de intervenções setoriais.

Construir o partido hoje significa começarmos a construir uma unidade política, constituir uma política capaz de armar a militância na intervenção nas lutas sociais, elaborar propostas para as questões candentes da conjuntura a partir de uma análise da realidade e não simplesmente responder a demandas da conjuntura. Significa intervirmos ativamente nas lutas sociais e políticas, com um perfil político definido.

Superar a dispersão e a desorganização Sabemos que estamos longe de atingir a organicidade necessária para responder à complexidade do momento político que atravessamos. Os fatos nos atropelam, mas não temos unidade política para dar respostas rapidamente.

Temos práticas e propostas diferenciadas conforme as diferenças políticas e teóricas das várias tendências.

Essa avaliação não é uma crítica, mas a constatação da situação em que nos encontramos. E que não poderia ser diferente, pois recém realizamos o Encontro Nacional que aprovou o Programa e os Estatutos provisórios. Esses documentos, ainda que sejam fundamentais para nós, não garantem nada, muito menos a unidade política e organizativa necessária. Não precisamos ir muito longe para constatarmos isso, pois há exemplos de sobra de organizações revolucionárias, com um programa revolucionário, que construiram a sua unidade pela via da exclusão, acarretando ondas sucessivas de rachas e expulsões.

Não é esse o nosso caminho. Mas para que consigamos alcançar o nosso objetivo, é necessário assumirmos a tarefa de organização política, de construção da nossa unidade política. E a própria tarefa de colher as quase 500 mil assinaturas estará ameaçada se não priorizarmos as tarefas de organização.

Caso contrário, corremos o risco de ter uma legenda partidária em 2006, mas não um partido. Pelo menos não um partido anticapitalista e socialista digno desse nome.

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