terça-feira, 3 de agosto de 2004

Crescimento econômico e trabalho precário

Revolutas No 09 - Agosto de 2004

com Sérgio Domingues

No começo deste ano o governo Lula foi bombardeado por cobranças no plano econômico, principalmente pela divulgação dos dados de 2003, com diminuição do PIB e aumento do desemprego. Hoje, a situação é diferente. Com o crescimento econômico dos últimos meses, o debate que presenciamos pela mídia é se este crescimento é ou não sustentatdo.

Antonio Palocci demonstrou seu otimismo em palestra na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, no dia 16 de julho afirmou: “O Brasil conseguiu consolidar os pilares para um crescimento de longo prazo. (...) O Brasil acertou seus pilares fundamentais para crescer pelos próximos dez anos. Essa é a questão fundamental.

"Nós cresceremos por 10, 12, 15 anos de maneira ininterrupta”

Há motivos para comemorar? O desemprego caiu por dois meses consecutivos.

Em junho, caiu para 11,7%, e já tinha baixado para 12,2% em maio, segundo o IBGE. O rendimento médio real dos trabalhadores cresceu 1,8% em junho na comparação com maio. E não é só isso. O número de empregados com carteira assinada cresceu 3,2% em junho comparado com o mesmo mês de 2003. A confiança dos empresários da indústria aumentou 7,8% no segundo trimestre do ano em relação ao anterior. É o que mostra pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgada no dia 22.

Mas por trás dos números, há uma realidade que o governo não divulga. Dos 589 mil empregos criados, durante junho, nas 6 áreas metropolitanas, 454 mil tinham ganho menor do que do que um salário mínimo por hora trabalhada. Ou seja, cerca de 77% daqueles que conseguiram um emprego no período receberam menos de um salário mínimo proporcionalmente às horas que trabalharam.

Além disso, a maioria dos números é comparada com meses do próprio governo atual. O rendimento do trabalhador, por exemplo, aumentou em relação a julho de 2003, quando chegou à redução recorde de 16,4%. Outro indicador importante, o número de empregados com carteira assinada também subiu em relação a maio de 2003. E o terror dos trabalhadores, o desemprego, caiu em relação a março de 2003.

Ou seja, toda essa comemoração vem do fato de que o governo Lula pegou o país no buraco e o empurrou para o fundo do poço.

O mesmo padrão de sempre Agora, a economia se recupera um pouco, mas sem desgrudar o traseiro da lama. O problema é que não é todo mundo que se suja na lama do fundo do poço. Um desempregado vive um desemprego de 100%, não de 11% ou 12%. Os trabalhadores informais sonham receber um salário num país em que ganhar mais de R$ 2.170,00 significa integrar a faixa dos 1% melhor remunerados.

E essa realidade continua igual. Segundo estudo do banco Merrill Lynch, o Brasil ganhou 5 mil novos milionários no primeiro ano de governo Lula. Isto quer dizer que o crescimento do governo Lula segue o mesmo padrão que fez do país campeão em desigualdade social.

Palocci não é panaca João Pedro Stédile, dirigente do MST, chamou recentemente o ministro Palocci de “panaca”. A direção da CUT também centra o fogo das suas críticas na área econômica do governo. Mas é preciso ser justo. Nem Palocci é panaca, e nem é o Judas que estaria sabotando um governo Lula cheio de boas intenções. É um ministro que sabe exatamente o que quer e que aplica de maneira exemplar a política do governo.

O neoliberalismo do governo não está apenas na política econômica, mas na proposta da PPP (parceria Público-Privada), nas “reformas” previdenciária, tributária, universitária, sindical e trabalhista, na política salarial.

O neoliberalismo é o eixo político de todo o governo Lula

Livrar a cara do Lula e crucificar Palocci, Meirelles, Furlan e Rodrigues, é ou um grande equívoco ou uma política deliberada para neutralizar as lutas, desviando-as do verdadeiro alvo. No caso da direção da CUT é óbvio que se trata desta última opção. O governismo de Luís Marinho é descarado, na sua política permanente de frear, desmobilizar e sabotar lutas que ameacem a “governabilidade” de Lula.

A saída é por baixo Diante dessa situação, a pergunta é: qual a saída? Há ainda os que acreditam poder salvar o governo. Mas é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que o governo Lula adotar uma política de defesa dos trabalhadores e dos pobres. É um governo amarrado pelos pés e mãos ao FMI, Banco Mundial e aos interesses patronais.

E está amarrado não contra a vontade, mas porque é essa a sua convicção, presente no seu programa de governo e, principalmente, na famosa “Carta aos Brasileiros” de agosto de 2002.

Pressionar deputados, reunir com ministros, etc., não vai adiantar nada. A única saída é a luta de massas, a partir de baixo.

Em 2003 vimos como o governo tremeu diante dos conflitos rurais, diante da ocupação do terreno em frente à Volkswagen por sem-tetos.

Mas é preciso ir ainda além. É preciso generalizar as lutas, em todos os sentidos: unindo trabalhadores empregados e desempregados, rompendo o corporativismo e a camisa-de-força das burocracias sindicais.

E, principalmente, tendo claro que não adianta brigar com patrões, latifundiários, banqueiros nacionais e estrangeiros, sem vincular essas lutas ao combate ao governo Lula.

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