Após o Encontro Nacional de 5 e 6 de junho, estaremos ingressando em uma nova fase da nossa luta pela construção do novo partido. Teremos aprovado um programa e um estatuto provisórios, e teremos pela frente novos desafios e tarefas, que prometem ser duros e difíceis, mas fundamentais.
A aprovação de um programa e de umestatuto, ainda que provisórios, será um fato importante, pois expressarão o nosso perfil político, os objetivos estratégicos, o caráter democrático da organização que estamos construindo. E, a julgar pelo anteprojeto e pelos debates que se sucederam, o programa provisório representará um avanço real, pois seu conteúdo e suas propostas não deixam dúvidas de que o novo partido será um partido empenhado no combate sem tréguas ao capitalismo e na luta pelo socialismo.
A grande batalha mal começou. Programas e estatutos são fundamentais, mas não bastam. A história está cheia de casos de partidos que possuíam programas revolucionários, mas cujas políticas equivocadas e práticas manipulatórias levaram a resultados trágicos. E não faltam exemplos de partidos com belos estatutos, mas que funcionam de maneira burocrática e anti-democrática.
Da mesma forma não basta apresentar o novo partido para que milhares de militantes, frustrados com o PT e o governo Lula, juntem-se às suas fileiras. Até este momento, realizamos seminários, atos, divulgamos a proposta do movimento por um novo partido, debatemos os anteprojetos de programa e de estatuto. E a resposta ao trabalho desses meses foi muito animadora e superou as expectativas, especialmente em alguns estados.
A questão é, e a partir de agora, que fazer? A resposta é aparentemente simples: organizar o novo partido, criar núcleos e comitês, colher assinaturas, lutar pela legalização.
Mas na realidade não é tão simples assim, pois agora iniciaremos a fase mais difícil do nosso processo de construção.
Não há dúvida de que será preciso urgentemente criar núcleos e comitês em todo o país. Essa é uma condição crucial para que o novo partido possa se enraizar na classe e nos movimentos sociais, possa se inserir nas lutas, e possa efetivamente se transformar em partido e não uma federação de tendências, pois para isso é preciso horizontalizar a vida interna para que as relações entre militantes se dêem sem a mediação de correntes internas. Mas, além disso, precisamos transformar os núcleos e comitês em organismos dinâmicos, políticos, que não se limitem a discutir tarefas e encaminhamentos, mas sejam espaços de debates e de formação política.
Ao mesmo tempo para que o novo partido comece a atuar minimamente enquanto partido, deveremos nos concentrar em dar respostas políticas às lutas concretas dos movimentos sociais. A elaboração e a aplicação dessas políticas deve permear o conjunto dos organismos, e não se restringir às direções. O programa provisório cumprirá um papel importante, sem dúvida, mas ainda assim há muito ainda por ser definido (políticas para o movimento sindical, estudantil, movimentos populares, etc.), além da necessidade de traduzir as políticas e linhas gerais em políticas e táticas capazes de incidir, com eficácia, nas diversas lutas.
A organicidade do novo partido será um processo difícil, mas necessário, de debates e intervenções, que não estará imune a erros. Mas será o único caminho possível, se quisermos construir um novo partido, e realmente ‘novo’.
O que será esse novo partido? Mais um partido sectário e dogmático que se limitará a “apontar o caminho correto”, esperando que as massas o sigam? Será um partido que privilegiará o parlamento e as eleições em detrimento das lutas? Será outro partido de ‘caciques’ e figurões, em que o papel da militância se limitará a ‘seguir a linha’ e a acatar decisões do topo? Será outro partido que aparelhará entidades e se auto-proclamará “direção” da classe trabalhadora? Será mais um partido substituísta, que agirá “em nome” dos trabalhadores? Será mais uma repetição do passado?
Dúvidas como essas estão nas cabeças de milhares de militantes e ativistas.
Sem respondê-las na prática será mais difícil conseguirmos ampliar o novo partido, agregar essas milhares de pessoas dispostas a lutar.
É óbvio que sabemos aonde queremos chegar, que tipo de organização queremos construir, mas o fato é que não basta anunciar o “novo”. Será preciso bem mais do que isso. Será necessário construí-lo para mostrar a que viemos. Além das discussões político-programáticas, que deverão prosseguir, deveremos investir na construção de práticas e métodos condizentes com os nossos objetivos, na nossa relação com as lutas e com a classe, numa forma de organização e funcionamento que seja democrática e eficiente. É assim que poderemos mostrar que o futuro não irá repetir o passado e que o nosso partido não será outro “museu de grandes novidades”.
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