sexta-feira, 4 de abril de 2003

Música contra a guerra

Revolutas No 02 - Abril de 2003

A força das canções de protesto sempre foi evidente. Basta lembrarmos de Joan Baez cantando contra a guerra do Vietnã, a guitarra distorcida de Hendrix detonando bombas em Woodstock, Vandré no Festival da Record, Victor Jara no Chile dos cordones, as canções de Mercedes Sosa durante a ditadura militar, os ‘caras pintadas’ cantando ‘Metal contra as Nuvens’. Os exemplos são muitos. E mostram que se é ilusão pensar que canções podem, por si sós, ter um papel ativo, elas cumprem um papel importante à medida em que encontram eco nos sentimentos e emoções das pessoas em um determinado momento. Quando essa sintonia ocorre conseguem sintetizar sonhos e aspirações, proporcionar símbolos e estimular os espíritos para a luta.

E não é à toa que em tempos de guerra a censura, ainda que não declarada, reaparece mesmo nas sociedades ditas democráticas.

Na Guerra do Golfo em 1991 as rádios britânicas tinham uma lista de músicas “proibidas”, que continha desde músicas “explícitas” como ‘Give Peace a Chance’ e ‘Imagine’ de John Lennon ou outras dezenas de Bob Dylan e U2, até canções inofensivas que, por uma razão ou outra, poderiam tornar- se “perigosas”.

Desta vez não foi diferente. A mídia nos EUA e Grã-Bretanha agiram como de costume, mas de maneira não tão camuflada. Quando a vocalista do trio feminino de country Dixie Chicks fez declarações contra a guerra, sofreu um boicote explícito por parte das estações de rádio que se recusaram a tocar suas músicas. Outras estações foram além: incitaram fãs a jogarem no lixo os CDs do grupo.

Mas o fato é que, desta vez, ao contrário de 1991, não só havia um amplo sentimento antiguerra nas populações, como também movimentos antiguerra de envergadura.

E isso refletiu também no meio artístico.

Um exemplo foi o discurso breve e irônico de Michael Moore na cerimônia do Oscar.

O amplo movimento antiguerra proporcionou uma atmosfera propícia e proporcionou confiança para manifestações mais abertas como as de Moore. Há, é claro, intervenções oportunistas como as de Madonna.

Mas não é esse o caso, por exemplo, de Pearl Jam que, num concerto recente, provocou a ira de alguns fãs ao se manifestarem contra Bush e a guerra.

A Internet provou ser um meio ágil para a difusão de posições e, principalmente, de música. Dezenas ou talvez centenas de canções de protesto foram disponibilizadas para download. Pode-se encontrar músicas de Billy Brag, Tom Morello, Zack de la Rocha, Asian Dub Foundation, Chumbawamba, Annie di Franco, entre outros. O ataque contra Iraque ressuscitou até mesmo figuras como Cat Stevens, aliás Yusuf Islam, que gravou uma música após 25 anos de silêncio.

Aqui estão duas indicações de downloads imperdíveis: March of the Death (A Marcha da Morte) de Zack de la Rocha. – O ex-vocalista do Rage Against the Machine retorna, 3 anos após o fim da banda, na companhia de DJ Shadow. “... O som do Terror vem de cima, com essa língua retorcida do Texas, em busca do petróleo que queima ao sol do deserto..” Zack, no mesmo estilo que o consagrou no RATM, cospe as palavras ao som dos ritmos e samples de DJ Shadow. Em seu site ele declara o que o levou a gravar ‘March of the Death’ : “Sem motivos ou argumentos justos, sem justificação legal ou moral, sem nenhuma prova de que o Iraque ameaça a segurança dos EUA, a administração Bush foi à guerra. Enquanto escrevo, chovem bombas sobre os civis indefesos de Bagdá. (...) Mentiras, sanções e mísseis nunca criaram uma sociedade justa e livre. Uma sociedade assim só pode ser conquistada pelas pessoas do povo. Por isso apóio as milhões de pessoas do mundo todo que se levantaram contra a guerra e os atos da administração Bush para expandir o império dos EUA a qualquer preço, e sem respeitar os direitos humanos.” Endereço para download: http://www.marchofdeath.com .

Boom de System of a Dawn. – O clipe de System of a Dawn foi dirigido por Michael Moore – o mesmo que ganhou o Oscar - e só isso já garante a qualidade do clipe. Nos 3 minutos do clipe imagens das passeatas em Paris, Tóquio, São Paulo, Rio, Madri, Londres, Roma, etc se sucedem ao som do nu metal excelente da banda. Os integrantes da banda interagem com manifestantes de Los Angeles, colhem depoimentos de pessoas nas ruas. Não se assuste com os 30 mb do clipe, pois o clipe vale o tempo de espera.

Endereço para download: http://
www.michaelmoore.com/ e http://

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